segunda-feira, 25 de abril de 2016

Estudo do SISEMPPA mostra a "terceirização" do cargo de auxiliar de administração

Estagiários no MPPA: a terceirização disfarçada do cargo de auxiliar de administração
Por Mauricio Matos*

No início do ano, em carta publicada no sítio eletrônico do Ministério Público do Estado do Pará – MPPA, o atual gestor, Procurador-Geral de Justiça Marcos Antônio Ferreira das Neves, enumera algumas ações de sua gestão que supostamente comprovariam seu discurso de que houve avanços na relação com os servidores.

Para quem trabalha no MPPA e vivencia os problemas do cotidiano, ficou claro se tratar de mais um conto da carochinha. A realidade dos servidores do MPPA é bem distinta do mundo do faz de conta que se tenta vender para a sociedade paraense.

A cada dia o meio ambiente de trabalho se deteriora ainda mais. É visível a insatisfação dos servidores com o atual modelo de gestão, salvo, é obvio, aqueles poucos agraciados com privilégios financeiros que elevam seus salários a valores similares ou superiores aos subsídios de promotores e procuradores de justiça. E mesmo dentre esses servidores com alto padrão salarial, a satisfação não é unânime.

A precarização do trabalho, o assédio moral, a negação de direitos, a perseguição política e o achatamento salarial, são alguns dos elementos presentes na atual gestão do MPPA. Têm sido privilegiadas as ações que contribuem para o sucateamento do serviço público, como as terceirizações (abertas ou disfarçadas) levadas a cabo nos últimos anos, bem como a desvalorização dos servidores públicos efetivos, fato que tem causado desânimo, problemas de saúde e pedidos de exoneração.

E esse caos no meio ambiente de trabalho é indiretamente sentido pela população, que percebe a queda da qualidade no atendimento ao cidadão. Isso, quando esse atendimento ocorre.

As exigências para que os órgãos públicos se tornem mais transparentes tem levado ao desenvolvimento de ações importantes. A existência dos “portais da transparência” é um exemplo. Por esse mecanismo de divulgação de informações – por mais frágil e incompleto que seja – o Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Estado do Pará – SISEMPPA tem pesquisado e obtido muitos dados que servem para traçar o perfil da administração pública.

O modelo de gestão empresarial e privatista de Marcos Neves, e toda a consequência negativa para os trabalhadores, decorrente desse modelo, pode ser observado (parcialmente) nas informações do portal da transparência do MPPA.


Durante sua gestão foi intensificado o processo de privatização do MPPA, com as terceirizações dos serviços de limpeza e de condução de veículos. Mas, paralelo a essas, outra “terceirização”, disfarçada, está ocorrendo. O quadro abaixo mostra a quantidade de estagiários “empregados” no MPPA no período de agosto/2013 a dezembro/2015, uma vez que não há informações disponíveis no portal da transparência dos meses anteriores.


No gráfico há uma interrupção no mês de janeiro/2015 em razão de não haver dados oficiais disponibilizados sobre esse mês.

De resto, observa-se uma curva ascendente e praticamente constante, cuja trajetória é alterada somente no final dos anos de 2013 e 2014, quando ocorre ligeira queda na quantidade de estagiários. Entretanto, essa dinâmica se modifica e volta a crescer nos meses seguintes. Nesse período, o aumento da quantidade de estagiários cursando o ensino médio e superior foi na ordem de 41,3%. Esse percentual é muito além daqueles observados nas demais categorias funcionais que compõem o MPPA.

Nos Demonstrativos de Remuneração de Pessoal publicados no Diário Oficial do Estado o MPPA divide o corpo funcional em 3 categorias: Membros (que inclui os promotores e procuradores de justiça); Militares (que inclui os policiais e bombeiros militares cedidos para o MPPA) e Servidores (que inclui os efetivos, os cedidos e os não efetivos/assessores). Dentre os Membros, observamos um crescimento quantitativo de 9,25%; entre os Militares, o aumento foi de 24,16%; e entre os Servidores, tal marca atingiu 24,92% a mais (sempre se considerando o período de agosto/2013 a dezembro/2015).

Verifica-se que a quantidade de estagiários teve um aumento percentual bem superior à quantidade de membros, militares cedidos e servidores. Tal elemento é uma característica marcante da política de “contratação” de mão de obra barata que proporciona a “terceirização disfarçada”, aliada à precarização do trabalho.

Importante registrar que em agosto/2013 não existiam estagiários cursando o ensino médio. Dos 469 estudantes que estagiavam no MPPA naquele ano, 75% cursavam Direito; 15% Administração e os demais 10% estavam matriculados em 12 diferentes cursos, como Serviço Social, Odontologia, Ciências Contábeis, etc.

Esse quadro sofre uma grande mudança nos meses seguintes. Em dezembro/2015 os estudantes cursando o ensino médio passam a responder por 25% das vagas de estágio. E embora as vagas para estágio de nível superior tenham aumentado em número, proporcionalmente foram reduzidas. Naquele mês, do total de 799 estagiários (médio + superior) do MPPA, 55% eram alunos do curso de Direito; 13% de Administração e 7% estavam matriculados em outros 12 cursos.

Essa mudança, que não teve nenhum objetivo pedagógico, busca intensificar a redução no gasto com pessoal, desviando atribuições dos servidores públicos para a responsabilidade de jovens trabalhadores, que necessitam ajudar financeiramente suas famílias e buscam abrir espaços no mercado de trabalho. Sistematicamente a demanda por mais servidores, oriunda das chefias das unidades administrativas do MPPA, seja na capital ou no interior do estado, quando é atendida, se faz com a oferta de mais estagiários.

Tal política tem gerado a desvalorização dos servidores, a precarização da mão de obra “contratada” e o desperdício de dinheiro público, se considerarmos que a grande rotatividade dos estagiários implica em uma constante política de capacitação, não progressiva, mas repetitiva e com baixo retorno, uma vez que a cada novo estagiário que assume a vaga se faz necessária sua ambientação e treinamento para o exercício de suas atribuições. E ao se desligar do estágio leva consigo todo o conhecimento adquirido, trazendo enorme prejuízo ao Serviço Público, que na maioria das vezes não poderá usufruí-lo, diante a impossibilidade de renovação do estágio após dois anos.

Algumas categorias profissionais já foram privatizadas no MPPA. Os serviços de limpeza e condução de veículos foram terceirizados e os cargos de auxiliar de serviços gerais e motorista foram colocados em extinção. E já se planeja a terceirização da recepção e da telefonia. Para o cargo de auxiliar de administração o que se observa é uma “terceirização disfarçada” pois a cada dia boa parte de suas atribuições são desviadas para os estagiários, em especial para aqueles ocupantes de vagas de nível médio e para os estudantes do curso de Administração que ocupam vagas de estágio de nível superior.

Essa substituição dos servidores ocupantes do cargo de auxiliar de administração por estagiários pode ser identificada ao se comparar a variação no quadro de pessoal. Entre agosto/2013 e dezembro/2015 houve um acréscimo de 31,5% na quantidade desses servidores (auxiliar de administração), passando de 371 para 488. No mesmo período a quantidade de estagiários (somados apenas: nível médio + nível superior/Administração) saltou de 68 para 308, com uma variação de 352,9%.

Se adicionarmos ao gráfico anterior as informações sobre o cargo de auxiliar de administração poderá ser observado com tranquilidade a diferença na política de contratação de pessoal. Enquanto a quantidade de estagiários cresceu, mês após mês, o número de auxiliares de administração permaneceu praticamente inalterado após novembro/2013, quando houve nomeação dos candidatos aprovados no concurso público de 2012.

Não foram encontrados dados relativos à outubro/2014 sobre a quantidade de servidores (auxiliar de administração). 


Enquanto a política de “contratação” de estagiários obedece um aumento constante, a nomeação de novos servidores para o cargo de auxiliar de administração fica estagnada, alterando-se apenas quando há substituição de servidor que requereu exoneração ou aposentadoria.

É importante atentar para o fenômeno ocorrido no final de 2013 e início de 2014, quando a relação se inverte. Em janeiro/2014 é registrado o menor número de estagiários do período (413). Nesse mesmo mês observa-se o maior número de auxiliar de administração do período (507). Seria mais uma constatação de que tem ocorrido a substituição de servidores por estagiários? Aparentemente, sim.


Por estágios remunerados com objetivos pedagógicos.
Basta de precarização do trabalho no MPPA.
Não à terceirização/privatização do Serviço Público.
Nomeação dos aprovados em concurso público.
Em defesa do Serviço Público de qualidade.



*Mauricio Matos é Diretor-Presidente do
Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Estado do Pará – SISEMPPA 

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